Teoria na Prática: Reflexões sobre a importância da Empresa Júnior na formação e capacitação dos estudantes de Gestão

CRA-RJ
6 min readNov 8, 2021

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*Adm. Rafael Moreira Guimarães e convidado

Em uma época marcada por importantes e rápidos avanços em automação e inteligência artificial, em que, por consequência, ocorrem, também, mudanças nos âmbitos acadêmico e tecnológico de forma acelerada, o ambiente profissional tem se tornado — e assim seguirá — mais dinâmico e fluído, provavelmente, sem as tradicionais fronteiras entre as áreas conhecimento, até então vigentes.

A inovação tornou-se regra, impondo um ritmo intenso de mudanças em praticamente todos os aspectos da sociedade. No ambiente do trabalho, em específico, tal contexto exige, já hoje, novas competências, e, no futuro, a compreensão de que as atuais gerações, sobretudo a Z (1995–2010), já carregarão algumas características e valores específicos, notadamente relacionados à tecnologia e ao trabalho.

Sob o ponto de vista pessoal, posso afirmar que tais mudanças também foram testemunhadas em minha atuação profissional na última década, sobretudo na atuação como Coordenador de cursos da área de Negócios. Ao longo de tal jornada, dentre as gratificantes atividades que desenvolvi junto aos estudantes, estão as inerentes à Empresa Júnior, denominada, doravante, como EJ.

As interações que, à época, tivemos, objetivando o planejamento, criação e desenvolvimento da EJ foram sempre muito ricas e brindadas por insights e reflexões relevantes para o objetivo então posto e, sobretudo, para o aprimoramento das competências dos estudantes.

Aquele cenário me faz lembrar bastante as chamadas guildas, antigas corporações europeias de ofício, existentes durante a Idade Média, compostas por artesãos que, entre outras atividades, procuravam regulamentar a profissão. Em tais guildas, havia uma hierarquia bastante clara que previa níveis como os chamados mestres — donos das oficinas — e os denominados aprendizes. Tais aprendizes costumavam iniciar sua capacitação ainda na infância, sob a tutela dos mestres — tidos, também, como sábios -, e, se então aprovados, poderiam também se tornar mestres (e quem sabe ainda melhores).

Desde então, como acima mencionado, muita coisa mudou. E seguirá mudando, sobretudo em um contexto por alguns denominados como VUCA (em inglês), em que volatilidade (volatility), a incerteza (uncertainty), a complexidade (complexity) e a ambiguidade (ambiguity) coexistiriam.

Se antes havia os ditos mestres, hoje nos deparamos com termos como counseling, mentoring e coaching. Além disso, as camadas hierárquicas passam a não fazer tanto sentido em alguns tipos de organizações, bem como — se de formas estanques e rígidas — para o planejamento de carreiras das novas gerações.

Sabemos, também, que o processo de aprendizagem, frequentemente, se dá em uma via de mão dupla, em que a construção das competências ocorre de forma conjunta, e, muitas vezes, a partir de diversas metodologias de ensino, tendo, por óbvio, os estudantes como protagonistas do processo.

De qualquer modo, o paralelo com as práticas das guildas é oportuno e ilustrativo, quando nos referimos à indissociável e riquíssima fase de aprendizado que os atuais estudantes de Gestão, incluindo os que fazem parte das EJs, vivenciam ao longo de sua trajetória, notadamente durante a Graduação.

Riquíssima atividade também, como acima mencionado, para os professores e orientadores que, além de aprender com tal experiência, conseguem, ainda, colocar em prática sua missão e seu propósito de mentor e educador dos futuros e brilhantes profissionais.

Para evidenciar a importância de usufruir de uma experiência em uma EJ, compartilho neste artigo alguns dados interessantes, extraídos de pesquisa sobre empregabilidade, sob o título de Pesquisa Egressos do Movimento Empresa Júnior (MEJ), realizada pela RioJunior no período de 09/07 a 19/08 de 2021. Os dados a seguir demonstram a relevância da experiência para tais estudantes, não somente para seus desenvolvimentos pessoais, como também, para suas carreiras.

O gráfico 1 torna clara a percepção positiva dos estudantes sobre a experiência de ter atuado em uma EJ. Nota-se que não há nenhuma menção negativa sobre tal experiência. Além disso, cerca de nove em cada 10 estudantes entrevistados afirmam que tal experiência teve importância nos âmbitos pessoal e profissional.

Gráfico 1: Experiência na EJ e impactos na vida dos estudantes

Quando se avalia a relação entre a experiência em EJ e a conquista posterior de vagas em estágios, também é possível identificar a relevância de tal jornada. Neste sentido, o gráfico 2 aponta que 80% dos pós-juniores de EJ realizaram estágios, o que sugere que tal experiência representa importante diferencial, também, sob os olhos dos recrutadores. Cabe salientar que os 20% complementares podem, ocasionalmente, ter optado por colocações em vagas efetivas.

Gráfico 2: Realização de estágio pós EJ

Ao avaliarmos o tempo de colocação em tais estágios, novamente, verifica-se o quão importante é ter atuado em EJ. A partir das respostas do gráfico 3, nota-se que quase a metade dos entrevistados afirmou ter saído da EJ diretamente para oportunidades de estágio. E os demais 40% dos estudantes que responderam ao questionário disseram ter levado, no máximo, um ano para conquistar tais posições.

Gráfico 3: Tempo até a obtenção do estágio pós EJ

Dado os gráficos anteriores, vale também destacar a percepção dos estudantes sobre a efetiva relevância da experiência nas EJ para a conquista de estágios. Os dados dos gráficos 4 e 5 vão ao encontro dos argumentos até aqui apresentados ao demonstrarem o quão importante foi o desenvolvimento das competências dos estudantes durante a EJ.

Gráfico 4: Importância percebida da experiência em EJ na obtenção do estágio

A importância percebida parece ser também legitimada pela — declarada — eventual recomendação a amigos para se vivenciar uma experiência em uma EJ, tal como aponta o gráfico 5.

Gráfico 5: Participação em EJ: Recomendação a amigos

De maneira semelhante à análise realizada no gráfico 4, nota-se no gráfico 6 a percepção positiva sobre a experiência em EJ para a obtenção de vagas efetivas de emprego. Considerando as respostas dos estudantes, três em cada quatro egressos da EJ atribuíram elevada importância de tal experiência para a conquista de suas vagas.

Gráfico 6: Importância percebida da experiência em EJ na obtenção do emprego

Considerando os dados apresentados, fica evidente a importância da experiência das EJs na vida e carreira dos pós-juniores. Evidente, também, é a profícua e rica fase que tais estudantes vivenciam, sobretudo no desenvolvimento de suas competências, incluindo aquelas denominadas como soft skills, as quais, sob os olhos dos contratantes, se tornarão vantagens competitivas perenes em mercados cada vez mais concorridos e acirrados.

Tenho convicção de que, seja em guildas da Idade Média; em futuros empreendimentos; ou nas atuais e futuras corporações — dotadas das mais modernas técnicas e processos de gestão -, caracteriza-se como essencial o desenvolvimento gradativo, consistente e permanente das competências para os profissionais da Gestão, assim como observa-se como indissociável o papel dos mentores, sejam estes os professores, orientadores, ou mesmo os colegas e pares mais experientes, muito comumente encontrados nas EJs.

E concluo meu texto com duas frases que se complementam. Uma frase pertence a Larry Page, cofundador da Google: “Muitas empresas não conseguem sucesso com o tempo. O que elas fazem de errado? Elas geralmente não pensam no futuro”. A outra foi dita por Nelson Mandela: “O que realmente conta na vida não é apenas o fato de termos vivido; é a diferença que fizemos nas vidas dos outros que determina importância da

nossa própria vida”. Com base nestas passagens, convido a todos os estudantes que nos leem a sempre pensarem em suas carreiras no futuro e, no futuro, quando profissionais estabelecidos, façam diferença na vida dos que vierem. E aos professores, orientadores e mentores (incluindo a mim), convido-os a seguir aprendendo a aprender e fazendo diferença na vida dos atuais estudantes, futuros, quem sabe, nossos também professores, orientadores e mentores.

Sucesso a todos!

*Adm. Rafael Moreira Guimarães é membro da Comissão Especial de Inovação e Empreendedorismo do CRA-RJ. Este artigo foi viabilizado pelo compartilhamento dos dados da referida pesquisa pela RioJunior, por meio de seu presidente executivo, Pedro Mielmiczuk, membro convidado da Comissão. Ao Pedro agradeço pela parceria, não somente por ter fornecido os dados, mas também pela relevante contribuição ao apreciar o conteúdo final do documento.

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