*Adm. Elioneide Venâncio
É extremamente normal que durante uma crise como esta nos sintamos assustados, ansiosos ou preocupados. A enxurrada de notícias sobre o tema e as fake news fazem com que nossa vulnerabilidade apareça. A ansiedade e o medo são naturais nesta situação e não devemos ter vergonha de sentir.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma a cada quatro pessoas vai sofrer com algum transtorno mental durante a vida. Globalmente, mais de 300 milhões de pessoas sofrem com a depressão, mais de 260 milhões com transtornos de ansiedade e, muitas delas, com ambas.
Estamos vivendo um momento de muita instabilidade psicológica. Será que vamos ter emprego? Como vai ser depois da pandemia? Essas questões assombram o colaborador. O papel dos gestores é fazer com que os funcionários se sintam seguros e essenciais nesse momento. Importante: lembrem-se de que estão lidando com humanos, pessoas que têm sentimentos, crises, ansiedade, medos e inseguranças. Dar um tratamento mais humanizado, principalmente nesse momento de pandemia, ajuda a tranquilizar os colaboradores.
Falamos dos gestores. Porém, como as empresas estão encarando a preocupação com a saúde mental? Esse tema somente ganhou relevância em 2017 quando, no Dia Mundial da Saúde Mental, a OMS lançou uma campanha mostrando que as empresas e seus gestores são responsáveis por promover a saúde mental dos funcionários. No universo corporativo, o adoecimento emocional afeta diretamente a lucratividade das organizações. Esses índices se configuram em prejuízo e aumento de custos, literalmente. É de suma importância que líderes empresariais compreendam que a intervenção em saúde mental requer o desenvolvimento de programas abrangentes. Estamos falando de prevenção, diagnóstico precoce, estruturação de programas eficientes de qualidade de vida e bem-estar, bem como uma cobertura mais competitiva de benefícios empresariais.
Diversos fatores estão relacionados à deterioração da saúde mental dos trabalhadores: estresse, bullying, assédio moral e sexual, preocupações com a estabilidade no emprego, a segurança financeira, home office, e o ambiente organizacional como um todo. Há também o agravante do excesso de informação gerado pela constante conectividade (Whatsapp, redes sociais etc.). Mediante esse quadro, será de extrema importância a abertura de espaço para debate e que as empresas apoiem seus colaboradores no tratamento de transtornos psicológicos.
O ser humano é, sem dúvidas, o recurso mais valioso, mas pode ser gravemente abalado por estresse, fatores emocionais e comportamentais. Até hoje se valorizou muito as atividades físicas e nutricionais, mas agora chegou o momento de as empresas olharem para aquilo que causa maior impacto: a saúde mental dos seus colaboradores. E não é só isso: não cuidar da saúde emocional tem efeito direto em outros indicadores financeiros, como faltas, afastamentos e aumento no custo da saúde, em especial em emergências, onde as despesas médicas são os grandes pilares dos convênios médicos.
É preciso olhar para a saúde de forma holística, englobando desde a disponibilização de psicólogos até incentivos à prática de atividade física e alimentação saudável.
Ainda hoje, as empresas não respondem à saúde mental com a mesma prioridade que o fazem em relação à saúde física, mesmo havendo evidências claras da eficácia e elevado retorno sobre o investimento
.A prevenção e o tratamento das doenças mentais possuem um inimigo feroz: o estigma social. Em geral, as pessoas que adoecem são tidas como fracas, pouco resilientes ou, pior, são culpadas por seu próprio adoecimento, rotuladas como incapazes de lidar com situações de pressão. Para isso precisamos acabar com estigmas, derrubar tabus, ampliar e facilitar o acesso aos atendimentos e, acima de tudo, promover bem-estar e saúde emocional para mais pessoas.
Da mesma forma com que as empresas possuem CIPA e funcionários treinados para manter o ambiente de trabalho seguro, é importante que empresários comecem a pensar em formas de melhorar os postos de trabalho para trabalhar transtornos mentais, prezando pela saúde mental principalmente na retomada ao trabalho.
Essa tarefa vai exigir mudança de postura da liderança. A forma com que ele se comunica com sua equipe, pode colaborar para um agravamento de um quadro de ansiedade e depressão, por exemplo. Não se trata de minimizar o papel do líder, fazendo com que ele se torne conivente com a falta de comprometimento , mas tornar o processo de feedback mais eficiente, fazendo com que ele solucione problemas, em vez de criar outros.
Se por acaso um de seus colaboradores tivesse um AVC, o que você faria? Do mesmo modo, precisamos questionar se a empresa está preparada para lidar com um profissional com dificuldades de respirar, devido a uma crise de pânico. As doenças mentais são cada vez mais comuns, por isso, é necessário saber como ajudar pessoas nessas condições enquanto a ajuda médica está a caminho.
Imagine a cena: uma pessoa escorrega e cai, todos riem e, no dia seguinte, ela se torna o assunto do horário de almoço. Constrangedor, não é mesmo? Agora, imagine esse constrangimento tendo como causa uma crise de choro, de ansiedade ou os resultados negativos de uma tarefa devido à depressão. Não podemos de maneira nenhuma incentivar comportamentos que tratem as doenças mentais como algo estranho, esquisito, que não mereça toda atenção da empresa. Isso inibe a pessoa de procurar ajuda e faz com que ela se sinta humilhada.
É comum que os colaboradores vejam apenas pontos negativos da empresa, como se o trabalho fosse o responsável pelos seus problemas. Busque mostrar o quanto o emprego pode ajudá-los a alcançar metas pessoais. Indique profissionais com mais tempo de casa para buscar casos de pessoas que tiveram suas vidas transformadas positivamente pela empresa.
Como discutimos, saúde mental é um assunto sério, que precisa de atenção das empresas. Afinal, essas doenças estão afetando a realidade profissional de milhões de pessoas em todo o mundo.
*Adm. Elioneide Venâncio é membro da Comissão Especial de Recursos Humanos do CRA-RJ