O Parasitismo no Capitalismo Moderno: A Ascensão do Rentismo e a Erosão da Economia Real

CRA-RJ
2 min readJul 9, 2024

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*Adm. Wagner Siqueira

No cerne do capitalismo contemporâneo emerge uma tendência preocupante: o crescente parasitismo financeiro que mina a vitalidade da economia real. Empresários, seduzidos pela ilusão de lucros rápidos, abandonam o investimento produtivo em suas próprias empresas em favor da especulação no mercado financeiro.

Essa inversão de prioridades transforma a natureza das empresas, que passam a servir aos interesses do rentismo em detrimento da produção de bens e serviços. Ativos reais, outrora pilares da economia, são reduzidos a meros instrumentos para a geração de lucros especulativos.

Empresas que deixam de investir em si mesmas estagnam-se, sacrificando produtividade e inovação. Esse dreno de recursos produtivos assemelha-se a um parasita que, ao sugar a riqueza da economia real, enfraquece seu hospedeiro. O resultado é a deterioração da capacidade produtiva, transformando o capital em mero patrimônio inerte.

O rentista moderno, que se autodenomina capitalista, assemelha-se mais ao usurário shakespeariano de “O Mercador de Veneza”: um especulador financeiro implacável, distante do capitão de indústria que impulsionou o desenvolvimento econômico no passado.

A cumplicidade entre executivos e acionistas, em busca de ganhos desproporcionais, exacerba a remuneração dos dirigentes, criando uma cultura de “superstars empresariais” que enriquecem a curto prazo, mas condenam suas empresas à ruína a médio prazo.

O favoritismo dos detentores do capital financeiro permeia toda a economia real, distorcendo sua função original. Investidores especulativos, que detêm ações por períodos fugazes, tornam-se proprietários de empresas sem compreender seus negócios ou localização, aprofundando o distanciamento entre o capital e a produção.

É imperativo reconhecer e combater esse parasitismo financeiro, que ameaça a sustentabilidade do sistema capitalista e da real sociedade de mercado. A retomada do investimento produtivo, a valorização da inovação e a busca por um equilíbrio mais justo entre capital e trabalho são essenciais para revitalizar a economia real e garantir um futuro próspero para todos.

A cobiça das organizações voltada centralmente para os interesses exclusivistas de seus acionistas é uma das facetas mais cruéis da mundialização da economia. Uma pilha de dinheiro não cria riqueza, gera mais dinheiro. Quem cria riqueza é o trabalho, a economia real, a produtividade do trabalho real. As discussões e debates do cotidiano na imprensa e nas mídias em geral — e, o que pior, no mundo acadêmico e empresarial — só trata da economia financeira, como se a economia real fosse apenas um simples detalhe.

*Adm. Wagner Siqueira é o atual presidente do Conselho Regional de
Administração do Rio de Janeiro; acadêmico da Academia Nacional de Economia e da Academia Brasileira de Administração; autor de mais de uma dezena de livros, dentro os quais “As Organizações São Morais?” e
“Estratégias de Intervenção em consultoria de Organização”.

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