*Adm. Wagner Siqueira
Continuando o pensamento colocado meu último artigo, “Educação Empreendedora”, chego mais uma vez à conclusão de que a quarta Revolução Industrial no Brasil só terá sucesso se tiver, em sua essência, no seu DNA, algo já plenamente consagrado como necessário: uma boa gestão! E a boa gestão só se fará com gestores — com Administradores — formados e forjados em aplicação simultânea de tecnologias hightechs junto com a aplicação de ciências sociais, ambas integradamente focadas na realidade da organização e no universo da sociedade.
A boa gestão precisa estar bem fecundada nessa cosmovisão — na weltanschaung — da realidade da organização, de seus processos e de sua cultura. E isto é propiciado pela integração sistêmica do conhecimento aplicado de tecnologias digitais de ponta e das ciências do comportamento humano nas organizações.
Essa fusão de ciências tradicionais aplicada às tecnologias hightechs será decisiva para que o aluno participe ativamente e esteja apto a realizar a construção de seu caminho profissional ao longo deste século 21 prenhe, cheio, de tantas descontinuidades e de disrupções que nos esperam.
Partícipe e matriz geradora essencial da Indústria 4.0, a educação, em geral — e a educação em Administração em particular — é também simultaneamente cliente e paciente desta quarta Revolução Industrial em que vivemos. No entanto, até que ponto estamos nós- professores de Administração — dispostos a enfrentar essas mudanças, muitas vezes tão difíceis e dolorosas?
Respondo: sim. Ao constatar a capacidade e a velocidade de os professores de Administração de se reinventarem nesta pandemia, ao vencer o desafio de sair de aula presencial para aula remota com tanta competência, me enche de convicção e de confiança de que conseguirão superar essas modificações, conseguirão estar no cerne do processo da Economia 4.0, onde o espaço de aprendizagem ganha força, principalmente com as imposições do novo normal advindas da crise do coronavírus.
Mesmo assim, é preciso estar ciente de que a educação 4.0, em especial em gestão, não funciona isoladamente. Na educação 4.0, essas ferramentas hightechs devem estar aliadas a uma metodologia que agregue todas as disciplinas — num só campo de interesse e de interconexão, como um todo integrado — todas as disciplinas de aplicação de conhecimentos em ciências exatas e sociais, filosóficas, políticas, psicossociológicas e emocionais.
Essas tecnologias devem estar a serviço da educação de qualidade. Devem permitir diagnosticar o aprendizado do aluno e complementar o trabalho do professor. Garantir que o aluno tenha ideia melhor, mais compreensiva, dos caminhos a seguir, com itinerários e trilhas de aprendizagens customizadas e personalizadas a cada aluno de per si. Ou seja, a educação também precisa ser customizada, já que nem todos nascem para serem empreendedores, nem para serem vocacionados a patrões ou a empregados. Cada um é único e singular. Esta é a maravilha de Deus!
Com isso, as atividades de ensino-aprendizagens ganham assim maiores possibilidades de meter a mão na massa, de aprender fazendo, de fazer as devidas conexões teoria e prática, dispondo do infinito espaço de aprendizagens através da utilização digital. Fazer teoria e prática se retroalimentarem em processo de causação circular. Pensar a realidade para mudá-la e transformá-la. O aluno precisa aprender a pensar e a interpretar a sua realidade no sentido de a transformar. Precisa deixar de ser treinado como mero aplicador de técnicas da moda, que logo serão superadas.
Definitivamente, as metodologias ativas são muito importantes e válidas, mas não são a panaceia para resolver todas a necessidades educacionais. Mesmo assim, as IEs mantêm rígidos os departamentos de ciências exatas, o de ciências humanas e o de ciências biológicas, como se o mundo, a vida, hoje fosse separada nessas caixinhas isoladas. Parem com isso! As IES devem, o quanto antes, reformular e/ou reforçar as estruturas de seus cursos para alinhá-los às necessidades da Indústria 4.0.
É preciso fazer a fusão do mundo digital, físico e biológico. Esta visão de mundo vale tanto para quem se destina a ser empregador ou empregado, empreendedor ou rentista da bolsa. Vale fundamentalmente para ser cidadão contemporâneo deste mundo!
É preciso que o processo ensino-aprendizagens se antecipe aos tempos presentes! Por quê? Porque o futuro já é realidade! O futuro bate à nossa porta! Enquanto a pandemia traz o medo e, de fato, uma efetiva recessão sem precedentes, entidades e o mundo corporativo que já embarcaram ou estão embarcando na Economia 4.0 enxergam um futuro bem mais promissor, veem luz no fim do túnel, percebem um novo normal num horizonte bem melhor.
E para atingir esse horizonte e achar o pote de ouro no fim do arco-íris, é preciso que os educadores de gestão em nosso país promovam reflexões e debates, estudos de caso e aplicações teóricas e práticas com o enorme arsenal de aprendizagens que a Indústria 4.0 possibilita pedagogicamente. Não só na retomada das atividades pós-pandemia, mas no cotidiano do processo de ensino nos próximos anos.
Tudo isso já está sendo confirmado no nosso dia a dia, já que é evidente que organizações que já estão em estágios mais avançados de transformação digital usufruem de muitas vantagens e muito menos dificuldades para enfrentar os desafios interpostos pela Covid-19. Claramente se adaptaram bem melhor e com maior facilidade ao home office e à operação de ativos e de processos gerenciais de forma remota, pois já dispunham de suas funções gerenciais integradas sistemicamente.
Obviamente, a crise do coronavírus acelerou a mudança de hábitos e de comportamentos, obrigou a todos a se reinventarem. Gerou novos modelos de negócios, escancarou oportunidades antes invisíveis. Explicitou todo um mundo de realizações negociais possíveis que sequer eram vistas antes da crise. Tivemos, e temos aqui, um enorme elenco de oportunidades — um novo mundo que se abre ao empreendedorismo e ao empreendedor.
Mais do que nunca, o ensino de Administração precisa estudar em sala de aula as implicações e os resultados objetivos do uso da utilização da Inteligência Artificial em áreas como planejamento de negócios; processos organizacionais; lógica empresarial; monitoramento, avaliação e crítica de desempenho organizacional; perfil e características da cultura; estratégias de desenvolvimento organizacional; marketing; vendas; finanças; logística; segurança patrimonial; recrutamento, seleção e treinamento de pessoas.
Logo, podemos ver que não há onde as tecnologias hightechs não possam ser aplicadas ao desempenho das organizações, certo? Como podem estar, então, fora do cotidiano de nossas aulas e cursos? Na maioria das salas de aula são até citadas, mas muito pouco aplicadas.
Ainda há muito o que falar, mas deixo, por fim, um recado aos professores e às IEs: tenhamos foco para que possamos buscar um futuro melhor para nosso país, para nossos alunos e para o nosso desenvolvimento.
*Adm. Wagner Siqueira é diretor-geral licenciado da Universidade Corporativa do Administrador